sábado, 18 de outubro de 2014

Os ácidos graxos trans na gravidez



Os efeitos adversos dos isômeros trans na humana têm sido objeto de diversos estudos nas últimas décadas, associando-os às doenças cardiovasculares (DCV), ao processo de crescimento e desenvolvimento da criança e à fase gestacional. Estudos sobre a associação entre os ácidos graxos trans e a saúde materno-infantil ainda são escassos em humanos, predominando em animais. Todavia, algumas pesquisas levantam hipóteses sobre a possível relação, enquanto outros apontam efeitos deletérios sobre o processo de crescimento e desenvolvimento, além de interferência no período gestacional.

Características básicas dos ácidos graxos trans

A maior parte dos ácidos graxos insaturados presentes nos alimentos existe na forma cis, significando que os hidrogênios estão do mesmo lado da dupla ligação. Os ácidos graxos trans formados a partir dos insaturados apresentam inversão na dupla ligação, colocando o hidrogênio na posição transversal e provocando a linearização da cadeia (Harper, 1994). Ao contrário dos isômeros cis, os trans são praticamente inexistentes em óleos e gorduras de origem vegetal não-refinados.Os ácidos graxos trans, também denominados gorduras trans, não são sintetizados no organismo humano e resultam de processo natural de bio-hidrogenação ou de processo industrial de hidrogenação parcial ou total de óleos vegetais ou marinhos. Os trans têm maior ponto de fusão que seus equivalentes cis. O ponto de fusão das gorduras insaturadas é sempre inferior ao das saturadas e trans. O ponto de fusão do ácido graxo oléico é de 13ºC, enquanto o de seu isômero trans, o ácido graxo elaídico, é de 44ºC. Essa diferença tem sido atribuída à orientação linear das moléculas nos isômeros trans.
Os isômeros trans são digeridos, absorvidos e incorporados pelo organismo humano de forma similar aos ácidos graxos com isômeros cis, não apresentando, entretanto, atividade como ácidos graxos essenciais. Os isômeros cis são mais rapidamente metabolizados como fonte de energia que os trans, e são preferencialmente incorporados em fosfolipídios estruturais e funcionais. Em humanos a incorporação dos trans nos tecidos depende da quantidade ingerida, do tempo consumindo alimentos com esse tipo de gordura, da quantidade de ácidos graxos essenciais consumida, do tipo de tecido e do tipo de isômero (configuração e posição da dupla ligação na cadeia).



Ácidos graxos trans e saúde materno-infantil

Diversos estudos vêm abordando a relação entre consumo de ácidos graxos e a fase gestacional, sugerindo-se que os trans são transferidos ao feto através da placenta. Para Honstra (2000), deve haver prudência quanto a considerar-se a associação entre estes fatores, pois as evidências ainda são insuficientes. Koletzko e Müller (1990) encontraram teores de trans no plasma materno diretamente proporcionais aos do cordão umbilical. Essa quantidade elevada de trans, quando comparada aos teores encontrados em outros tecidos, pode ser conseqüente do tipo de tecido do cordão umbilical, que apresenta maior concentração de lipídios, levando à maior incorporação de trans.
Entre as pesquisas voltadas para a análise da ação dos isômeros trans sobre a saúde da criança, encontrou-se como relato comum o bloqueio e inibição na biossíntese dos ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa, na fase fetal e após o nascimento. O estudo de Koletzko & Müller (1990) demonstrou correlação inversamente proporcional e significativa entre ácido graxo linoléico e trans. Acredita-se que esse processo ocorra através da inibição da enzima dessaturase.
Sugere-se, ainda, que os trans afetam o crescimento intra-uterino por inibição da biossíntese dos ácidos graxos poliinsaturados araquidônico e docohexaenóico. A hipótese para explicar o efeito dos trans sobre o retardo do crescimento se sustenta no importante papel desempenhado pelos ácidos graxos essenciais, especialmente o docohexaenóico, no processo de crescimento, associando-se positivamente com o peso e comprimento de nascimento e circunferência do crânio. Além disso, observou-se correlação inversa entre consumo de trans e o peso ao nascer.
Acredita-se que as gorduras trans podem afetar também o processo de desenvolvimento da criança. Esse fenômeno também foi explicado pela deficiência na formação dos mesmos ácidos araquidônico e docohexaenóico, os quais estão envolvidos na função psicomotora. Outro efeito verificado entre os ácidos graxos trans e a gestação refere-se ao aumento do risco de pré-eclâmpsia (a hipertensão arterial específica da gravidez). Analisando a pressão arterial em dois grupos de mulheres, estudiosos observaram que aquelas relatando consumo mais elevado de gorduras trans durante a gestação apresentaram maior risco de manifestação desta complicação.

REFERÊNCIAS:

HARPER, H.A. Manual de química fisiológica. 7.ed.São Paulo : Atheneu, 1994
http://www.scielo.br/pdf/rn/v15n3/a10v15n3.pdf
http://www.cabesp.com.br/home/Materia/Visualizar/168
KOLETZKO, B., MÜLLER, J. Cis- and trans- fatty acids in plasma lipids of newborn infants and their mothers. Biology of the Neonate, Basel, v.57, n.3/4, p.172-178, 1990.
HONSTRA, G. Essential fatty acids in mothers and their neonates1,2,3,4. American Journal of Clinical Nutrition, Bethesda, v.71, n.5, p.1262S-1269S, 2000. Supplement

8 comentários:

  1. Os ácidos trans, como dito no texto, têm conformação diferente do cis e devido a isso tem propriedades químicas diferentes, acarretando diferentes consequências. Estudos demonstram que esses ácidos graxos podem contribuir para o aumento de LDL e de lipoproteína, além de reduzir os níveis de HDL. Ainda, os isômeros trans parecem inibir a ação de enzimas de dessaturação dos ácidos graxos essenciais (Δ5- e Δ6-dessaturase), inibindo a biossíntese de importantes ácidos graxos, como o ácido araquidônico e o ácido docosahexaenóico (DHA). Sobre a saúde materno-infantil, as concentrações de ácidos graxos trans ingeridos estão associadas às concentrações encontradas no leite materno. Além do leite, tais isômeros podem ser transferidos ao recém-nascido pela via placentária. Os estudos sugerem que os ácidos graxos trans afetariam o crescimento intra-uterino devido à inibição do metabolismo dos ácidos graxos essenciais, pelas enzimas dessaturases. A inibição dessas enzimas pode ser também um fator desencadeante de uma precoce lesão aterosclerótica. Porém, os efeitos dos ácidos graxos trans sobre a saúde ainda não são conclusivos e não existem recomendações para seu consumo. Além disso, no Brasil, os estudos para determinar o teor desses isômeros nos alimentos ainda são incipientes, o que demonstra uma grande necessidade de pesquisas nesta área.
    Referencia: http://www.scielo.org.ve/scielo.php?pid=S0004-06222006000100003&script=sci_arttext

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  2. Como foi dito, muitos estudos analisam a relação entre o consumo de ácidos trans e a fase gestacional, mas as evidências ainda são escassas para que se obtenha uma conclusão. Recentemente, os ácidos graxos trans foram incluídos entre os fatores dietéticos de risco para doenças cardiovasculares. Discute-se ainda sua relação com o processo de crescimento e desenvolvimento da criança desde a fase fetal e período gestacional. Os trans originam-se dos ácidos graxos insaturados no processo de hidrogenação e bio-hidrogenação, apresentando ação diferenciada destes. Diversas pesquisas ressaltam seu efeito hipercolesterolêmico e o bloqueio e inibição da biossíntese de ácidos graxos essenciais. Estas ações têm repercussões na saúde materno-infantil e elevam o risco de doenças cardiovasculares. Recomenda-se a redução do consumo de alimentos que contenham gordura hidrogenada, adotando os limites de 2% a 5% de gorduras trans/energia totais, já empregados em outros países.

    Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1415-52732002000300010&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

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  3. A nutrição adequada é essencial para a saúde da grávida e de seu futuro bebê, contribuindo para diminuir os riscos envolvidos numa gestação sem cuidados. Essa postagem traz um problema que, na prática, é pouco pensado, ou muito negligenciado. Quando o texto traz que a eclampsia pode estar relacionada ao consumo de alimentos com teor importante de gordura trans, nos faz pensar que a orientação alimentar pode ser uma ferramenta no combate contra esse quadro perigoso para a vida da mãe e do filho. Algumas mulheres, durante a gravidez, aumentam o consumo de guloseimas, biscoitos, sorvetes, bolos, batatas fritas, dentre outros, que concentram considerável quantidade de gordura trans. E isso requer orientação que desestimule esses hábitos, tidos até como inerentes da gestação.

    Fonte:

    http://www.minhavida.com.br/familia/materias/11995-consumo-de-gordura-trans-pela-mae-prejudica-o-bebe

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732002000300010

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  4. "Os ácidos graxos trans (AGT) sempre estiveram presentes na alimentação humana, através do consumo de alimentos provenientes de animais ruminantes. Entretanto, com a produção de substitutos para a manteiga e as gorduras animais, principalmente a partir da hidrogenação parcial de óleos vegetais, cuja presença destes isômeros na dieta se tornou significativa (...) Além de alterar o desenvolvimento intra-uterino pela inibição da síntese dos ácidos araquidônico e docosa-hexaenóico, (...)outra possível consequência deste processo é a alteração no balanço existente entre prostaglandinas e tromboxanos, o que pode favorecer a agregação plaquetária, contribuindo para o desenvolvimento de aterosclerose". Ao ler o trecho acima, percebemos a necessidade de uma atenção constante aos níveis de ácidos graxos trans na alimentação da população brasileira, principalmente entre as gestantes, já que elas podem facilmente transmitir essas substâncias para o feto, como foi muito bem destacado na postagem. Logo, o acompanhamento nutricional da gestante se faz essencial para que o pleno desenvolvimento do feto. Aguardo novas postagens para saber mais!
    Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732004000300009

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  5. A postagem foi muito interessante na medida em que tratou do tema das gorduras trans, e relacionou a mesma com bioquímica, e com a saúde do embrião. O nome trans é um diminutivo de transverso, que compreende uma substância que melhora o aspecto dos alimentos e sua consistência, aumentando sua durabilidade, sendo, portanto, muito usada na indústria. O problema, no entanto, surge na medida em que o organismo humano não se mostra especializado, e acaba, por incapacidade de eliminá-la, depositando-a no fundo. Acredita-se que as gorduras podem afetar o processo de desenvolvimento da criança, e aumentar o risco de pré-eclâmpsia (a hipertensão arterial específica da gravidez), sendo, portanto, de grande importância, a medida adotada pela Vigilância Sanitária – pois até aquele momento, não era possível saber que alimentos continham ou não a gordura trans. A lei de que O rótulo de produtos alimentícios deve trazer informações sobre a quantidade de gorduras trans, (que são definidas como triglicerídeos que contêm ácidos graxos insaturados), foi um grande primeiro passo, mas a reforma parte principalmente da ação própria das pessoas que devem estar atentos às informações nutricionais dos alimentos que consomem para garantir sua saúde, e assim, uma melhora na alimentação da população e no sistema de saúde como um todo. Aguardo novas postagens sobre o assunto.

    Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732004000300009
    http://www.einstein.br/einstein-saude/nutricao/Paginas/gordura-trans-mal-a-ser-evitado.aspx

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Muito interessante o tema proposto, pois é uma coisa bem comum em nosso meio a ingestão a "convivência" com os alimentos que apresentam em sua composição gorduras trans. A fase gestacional é um período em que a mulher deve ter um cuidado redobrado em relação aos seus variados hábitos de vida, sendo a alimentação um dos mais essenciais. Sendo o organismo materno a única fonte de nutrientes para o feto, por meio da ingestão ou de suas reservas, e, ainda, considerando que a boa nutrição intrauterina garante um nascimento saudável e melhores condições de saúde para a idade adulta, nada mais justificável que, em trabalhos com saúde da família, as gestantes recebem atenção redobrada. Além dos aspectos bem citados no texto, as gorduras trans durante a gravidez podem levar a outros agravos, Em uma pesquisa publicada pela revista americana “Fertility and Sterility” estudos indicam que uma dieta rica em gorduras trans poderia aumentar a resistência à insulina e, de acordo com especialistas americanos, isso levaria a uma maior atividade do inibidor do ativador do plasminogênio, que está associado à perda fetal. Avaliando 104 mulheres que tiveram pelo menos uma gravidez durante 25 a 30 anos de acompanhamento, eles notaram que a taxa de perda do feto aumenta de 30% em mulheres com menor consumo de gordura trans (2,2% do total de calorias), para 52% em mulheres com maior ingestão dessas gorduras (47% do total de calorias). Aguardo as próximas postagens!

    http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/231209/mod_resource/content/1/mod_nutricao_nos_ciclos_da_vida_v2.pdf

    http://pat.feldman.com.br/2008/09/20/excesso-de-gorduras-trans-na-gravidez-aumenta-risco-de-morte-fetal-diz-estudo/

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  8. É sabido que as gorduras trans aumentam o risco de doenças cardiovasculares na população em geral, mas o assunto deste post é interessante por afirmar que essa também provoca efeitos danosos ao desenvolvimento dos bebês no útero materno.
    As gorduras trans são absorvidas mas não têm nenhum papel como ácido graxo essencial no organismo, desse modo vão contribuir para o aumento do colesterol e redução do HDL, aumentando o risco das doenças cardiovasculares.
    FONTE: http://showdasgordurosas.blogspot.com.br/2014/06/gorduras-trans-as-grandes-vilas-da.html

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