O tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de morte evitável em todo o mundo. A OMS estima que um terço da população mundial adulta, isto é, 1 bilhão e 200 milhões de pessoas (entre as quais 200 milhões de mulheres), sejam fumantes. Pesquisas comprovam que aproximadamente 47% de toda a população masculina e 12% da população feminina no mundo fumam. Enquanto nos países em desenvolvimento os fumantes constituem 48% da população masculina e 7% da população feminina, nos países desenvolvidos a participação das mulheres mais do que triplica: 42% dos homens e 24% das mulheres têm o comportamento de fumar.
Tabagismo e
Gestação
O tabagismo na gestação acarreta
sérios prejuízos, já devidamente reconhecidos e relatados, para o crescimento intra-uterino
da criança. O maior risco de prematuridade e baixo peso ao nascer, em gestantes
fumantes, ocorre no terceiro trimestre, e este risco aumenta proporcionalmente
ao número de cigarros fumados. As mulheres que fumaram durante os segundo e/ou
terceiro trimestres tiveram risco igual àquelas que fumaram durante toda a
gravidez. Assim, provavelmente, é maior durante o terceiro trimestre, a fase em
que o fumo mais atua como fator de diminuição do desenvolvimento fetal.
Ação
As alterações do tabagismo
materno sobre o feto abrem um capítulo à parte nas conseqüências do tabagismo
sobre a saúde. O feto não é um fumante passivo qualquer, que inala fumaça de
cigarro involuntariamente em um ambiente aéreo, ele é um ser altamente
vulnerável, numa fase de risco para o comprometimento do seu desenvolvimento. A
mulher, quando fuma durante a gestação, expõe seu feto não apenas aos componentes
da fumaça do cigarro que cruzam a placenta, mas também às alterações na
oxigenação e metabolismo placentário, e às mudanças no seu próprio metabolismo
secundárias ao fumo. Dentre os
vários componentes do tabaco que interferem na evolução da gravidez,
destacam-se a ação da nicotina e do monóxido de carbono (CO).
A nicotina age no sistema
cardiovascular, provocando liberação de catecolaminas na circulação materna e,
como conseqüência disso, ocorrem taquicardia, vasoconstrição periférica e
redução do fluxo sanguíneo placentário. Tem-se o conhecimento da comprovada
ação vascular da nicotina, sendo que o seu efeito agudo causa diminuição do
fluxo sanguíneo no espaço interviloso, fato este correlacionado com o aumento
da produção de catecolaminas no sangue circulante materno. O resultado disso é
a redução na perfusão úteroplacentária e consequente má oxigenação e nutrição
fetal.No feto, a nicotina reduz a perfusão placentária devido a sua ação
vasoconstritora, além de atravessar facilmente as barreiras placentária e
hematoencefálica, atingindo rapidamente o feto, podendo causar danos diretos
sobre o mesmo. Mais recentemente, Rama Sastry, Hemontolor e Olenick verificaram
que a cotinina, o metabólito da nicotina, facilita a ação vasoconstritora da
prostaglandina E2 e o acúmulo de cotinina na circulação fetal poderia
contribuir para a indução do trabalho de parto prematuro e o aborto espontâneo
em fumantes
O monóxido de carbono (CO), ao
combinar-se com a hemoglobina materna e fetal, estabelecendo hipóxia na mãe e
no feto, poderia ser um dos fatores responsáveis pelo sofrimento fetal crônico
nas gestantes fumantes. Estudos já realizados mostram que o monóxido de carbono
em níveis elevados interfere prejudicialmente na gestação, levando ao quadro de
hipoxemia crônica no feto. O CO é importante constituinte da fumaça do cigarro,
atravessando a placenta rapidamente por provável difusão simples ou facilitada,
chegando a apresentar nível de concentração no sangue fetal 10 a 15% maior do
que no sangue materno. A hemoglobina possui afinidade pelo CO cerca de 220
vezes maior que pelo oxigênio. O CO, sendo ligado à hemoglobina, aumenta a
afinidade do oxigênio para a hemoglobina remanescente. Isso desvia a curva de
saturação da oxiemoglobina para a esquerda, o que significa que a tensão de
oxigênio do sangue deve cair abaixo dos valores normais antes que uma
quantidade de oxigênio seja liberada da hemoglobina.
Tabagismo e
Lactação
A lactação constitui um período
importante para o desenvolvimento físico e psicológico da criança, com consequente
redução da morbi-mortalidade infantil no primeiro ano de vida, em especial nos
países subdesenvolvidos. As consequências do tabagismo materno e
familiar sobre a lactação e a criança amamentada constituem um somatório de
efeitos que também lhe dão características próprias. Além das consequências do
tabagismo passivo da criança, que está numa fase de quase permanente contato com
a mãe dentro do domicílio, se somam as consequências sobre a lactação
propriamente dita.
A nicotina é o segundo componente
tóxico mais abundante no tabaco. Por ser um alcaloide básico (pKa1=7,8), ela
alcança concentrações consideravelmente mais altas no leite que no soro
(leite/soro =2,9 ± 1,1), em função do pH mais ácido do leite. Existe uma correlação
entre a concentração de nicotina no leite e no soro e concentrações mais altas
são encontradas 10 minutos após fumar. Em função da sua curta meia vida, tanto no
soro (80 minutos), quanto no leite (95minutos), a real concentração da nicotina
no leite não depende apenas do número de cigarros fumados por dia, mas do tempo
decorrido entre o último cigarro consumido e o início na amamentação. Estudos
em animais mostraram que a exposição ao tabagismo diminui a concentração de
prolactina e inibe a produção de leite. Observações em mulheres que estão lactando
também indicam que o tabagismo diminui a concentração de prolactina e diminui a
duração do aleitamento. Além disso, crianças amamentadas, filhas de fumantes, ganham peso numa velocidade menor
que filhas de não fumantes, sugerindo assim que o tabagismo pode afetar a produção
do leite. Em seres humanos, observou-se que os níveis de prolactina foram 40%
menores em mulheres fumantes, e o tempo de desmame foi menor.
Conclusão
Considerando todos os efeitos
nocivos do tabaco, tanto para a saúde do homem quanto para o meio ambiente, é imperioso
reduzir o hábito de fumar em todos os grupos populacionais. Tendo em vista a
quase universalidade do atendimento pré-natal em áreas urbanas do Brasil, a
gravidez deve ser vista como o momento ideal para incentivar o abandono do tabagismo,
pois nesse período ocorre intensificação dos contatos com profissionais de
saúde, propiciando, assim, oportunidade para esse incentivo. Nesse sentido,
roga-se a todos os profissionais que fazem assistência materno-infantil que
orientem as gestantes fumantes, destacando os grandes malefícios sobre a sua
saúde e, principalmente, a de seu filho, tanto a intra-uterina quanto após o
nascimento.
Por outro lado, deve-se encorajar
a amamentação natural mesmo naquelas que não conseguiram deixar o tabagismo, pois
sabe-se que crianças filhas de fumantes alimentadas artificialmente estão similarmente
expostas aos poluentes do cigarro e, além disso, ao risco adicional de doenças respiratórias,
gastrintestinais, alérgicas e à morte no berço.
Em função da curta meia vida da
nicotina no leite (aproximadamente 1½ hora), nessas situações, deve-se
recomendar às mães fumantes que esperem
cerca de 2 horas após o último cigarro para o início da amamentação.
"Proteger e promover a
saúde das mulheres é crucial para a saúde e desenvolvimento, não só para os
cidadãos de hoje, mas também para os das gerações futuras". Margaret Chan
OMS – Organização Mundial de Saúde
Muito interessante saber os perigos do tabaco do pré ao pós-natal. Vale ressaltar que vários estudos têm demonstrado que o fumo passivo pode ser mais perigoso, pois ignora filtros, como o que está sendo sugado diretamente. Portanto, o tabaco também é prejudicial às crianças ou às pessoas que convivem com fumantes. Além disso, pesquisas determinaram que filhos de fumantes durante a gravidez têm mais comumente infecções virais durante o primeiro ano de vida, porque a função pulmonar é prejudicada antes do aparecimento da doença. outro fator problemático é que está provado por estudos de acompanhamento epidemiológico que as crianças expostas a uma atmosfera de fumaça de cigarro durante o primeiro ano de vida e que têm infecção viral tipo bronquiolite, são mais propensos a bufar (congestionamento e ruído no peito). Diante disso e das informações da postagem, percebe-se que o tabaco traz mais males que benefícios, e que seu uso deve ser evitado quando houver gravidez, e ate mesmo após o nascimento do filho.
ResponderExcluirGostei muito do post, principalmente pelo fato de que ele reafirma a necessidade do desestímulo ao cigarro. O tabagismo chega a interferir na gravidez desde a própria concepção ("interferência na gametogênese ou na fertilização, dificuldade de implantação do óvulo concebido, perda subclínica após implantação"-http://www.scielo.br/pdf/jped/v77n4/v77n4a06.pdf), além de gerar malefícios a longo prazo para o filho, já que pesquisas publicadas no The Journal of Neuroscience mostraram que pessoas expostas à nicotina no período pré-natal poderiam apresentar maior consumo de substâncias aditivas (como álcool, gordura e nicotina) durante a adolescência e a vida adulta. Desse modo, é urgente a criação de mais políticas públicas de desestímulo ao cigarro, a nível global, que atinjam a população em geral e, principalmente, as mulheres, possíveis futuras gestantes.
ResponderExcluirMuito interessante as informações, além de explicitar as consequências desastrosas do hábito de fumar durante a gravidez, nos dá uma visão geral do quão prejudicial é o tabagismo para a população em geral. Como foi bem mostrado no post as consequências da presença da nicotina e do monóxido de carbono no sangue da mãe são imensuravelmente danosas à saúde da criança. Pesquisas recentes provam que o fumo também pode danificar os vasos sanguíneos do bebê. Além disso o fumo também causa a destruição da vitamina C, e quando ela não está presente para eliminar o ácido lático, há um aumento da fadiga muscular,é um sério fator de hipoglicemia, provocando dores de cabeça e ansiedade, e aumenta a taxa de colesterol, traz graves distúrbios circulares e o enfraquecimento da memória, diminui o apetite e atrapalha o aproveitamento dos alimentos, levando a uma subnutrição. Isso tem efeito direto no peso e na resistência da criança. Frente a essa situação é de suma importância o incentivo e os investimento em campanhas que intensifiquem a importância de parar de fumar e o papel dos profissionais de saúde de todas as áreas é de grande relevância neste âmbito.
ResponderExcluirO tabagismo, como muito bem retratou o texto, é uma das maiores causas de morte no mundo, e, além disso, um grave problema de saúde pública no Brasil, onde se acredita que ele provoque 200 mil mortes por ano, (23 pessoas por hora). Tal problema assume uma proporção ainda maior, quando se leva em conta que, ao fumar, uma pessoa não prejudica somente a si, mas a todos àqueles com quem convive, (filhos, amigos, familiares) e, no caso de uma gravidez, ao seu próprio feto, causando vários distúrbios de desenvolvimento, e também a maior chance de um parto pré-maturo. O principal componente psicoativo do cigarro é a nicotina, que age como agonista sobre os receptores da acetilcolina do subtipo nicotínico, o que afeta de forma direta o Sistema Nervoso Central. Ao ser inalada, a nicotina chega até o sangue, alcançando o cérebro em 15 segundos, onde acredita-se que ela ative a via dopaminérgica, projetando-se para o córtex cerebral e o sistema límbico, e tendo então, um efeito que causa vício, e que torna difícil para uma mãe fumante, por exemplo, deixar de fazê-lo. No que diz respeito a isso, o poder legislativo tem tomado medidas importantes como o Art 2o , da lei nº 12.546, de 2011 que diz: “É proibido o uso de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos ou qualquer outro produto fumígeno, derivado ou não do tabaco, em recinto coletivo fechado, privado ou público”. Tal lei, além de garantir que pessoas não fumantes, não sejam prejudicas por aqueles que o fazem, tem uma amplitude grande, no sentido, de abranger os hospitais e postos de saúde, as salas de aula, as bibliotecas, os recintos de trabalho coletivo e as salas de teatro e cinema, e garantir assim, que a medida de saúde seja bem aplicada e seguida. Aguardo novas postagens.
ResponderExcluirReferências:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9294.htm
http://www.minhavida.com.br/saude/temas/tabagismo
http://neuromed92.blogspot.com.br/2011/01/nicotina.html
É importante que durante a gravidez a mulher esteja saudável e haja de modo a conservar essa condição. Uma gestante fumante está mais sujeita a doenças como bronquite crônica, sinusite, dispepsia, fato que aumenta a probabilidade da necessidade de ingestão de remédios potencialmente perigosos para o desenvolvimento do feto. Além de reduzir a sua capacidade física que deve manter-se alta durante toda a gravidez, sobretudo, no esforço do parto. É de conhecimento público que o tabagismo materno é prejudicial à saúde do feto, mas quando se compreende a dimensão dos efeitos nocivos a questão torna-se muito mais importante. Achei bastante educativo a explanação sobre a ação do tabagismo no organismo do feto e do bebê, de como a nicotina causa problemas cardiovasculares e CO compromete a oxigenação, e também de como este vício pode até mesmo interromper a gravidez. Por isso é tão necessário que os profissionais da saúde sempre reiterem as mãe fumantes a importância, ao menos durante os períodos de gestação e de amamentação, da interrupção do uso do tabaco. Aguardo as próximas postagens.
ResponderExcluirMuito legal essa conscientização sobre os riscos do tabagismo na fertilidade e amamentação. Outro detalhe importante para lembrar é que o homem também tem fertilidade reduzida só que com menor intensidade. O tabagismo na mulher reduz globalmente a fertilidade com evidente atraso da primeira gestação10. Em um estudo com 678 voluntárias, Baird & Wilcox11 observaram que o grupo fumante tinha 3,4 vezes mais probabilidade de levar mais de um ano para conceber (após tentativas de engravidar) do que as não fumantes. Estimaram que a fertilidade das fumantes era de 72% das não fumantes, diferença mais acentuada nas grandes fumantes; no entanto, observaram que a fertilidade não foi afetada pelo tabagismo do marido. Outro importante estudo realizado com 2.198 mulheres da Finlândia que suspenderam o uso do anticoncepcional, Suonio et al.12 observaram que quanto mais elas demoravam a engravidar, mais significativo era o efeito do tabagismo, mesmo na forma leve. O efeito do tabagismo na fertilidade pareceu depender, na maioria dos casos, da dose envolvida. Concluem que o tabagismo materno afetou a fertilidade mais que o tabagismo paterno, o que significa que o sistema reprodutivo feminino é mais vulnerável ao tabagismo que o sistema masculino. Achados semelhantes foram registrados por Bolumar, Olsen e Boldsen13 num estudo multicêntrico.
ResponderExcluirFONTE:http://www.scielo.br/pdf/jped/v77n4/v77n4a06.pdf
Bastante relevante essa discussão, pois já é sabido de todos que o tabagismo provoca diversos riscos à saúde da população em geral, mas principalmente às gestantes. Estas não só correm risco, mas também expõem o feto a diversas complicações e prejuízos ao seu desenvolvimento saudável. Como foi explicado no blog, o Monóxido de Carbono atravessa a barreira placentária atingindo o feto em seu momento mais crucial de desenvolvimento. E também é capaz de passar para o leite materno, continuando a provocar danos também na vida extra uterina. Desse modo, são importantes as ações constantes de prevenção e de orientação da população sobre os malefícios do tabagismo.
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