sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

A pré-eclâmpsia e seus efeitos durante a gestação

Milhares de mulheres e bebês morrer ou ficar muito doente a cada ano a partir de uma condição perigosa chamada pré-eclâmpsia, uma doença fatal que ocorre apenas durante a gravidez , sendo que em alguns casos pode ocorrer mais cedo, antes da 20ª semana (até mesmo um ligeiro aumento da pressão arterial pode ser um sinal de pré-eclâmpsia) e no pós-parto. Essa doença ocorre quando uma mulher grávida tem pressão arterial elevada (acima de 140/90 mmHg) a qualquer momento após a sua 20ª semana de gravidez, com desaparecimento até 12 semanas pós-parto. Além da pressão arterial elevada, outras complicações como excesso de proteína na urina e edema devem acontecer para se ter o diagnóstico de pré-eclâmpsia. A condição também é chamada de toxemia ou doença hipertensiva específica da gravidez (DHEG). O nome pré-eclâmpsia foi dado uma vez que essa condição favorece a eclâmpsia, um tipo de convulsão que acontece na gravidez e pode ser fatal para a mãe e bebê.
Caso não seja tratada, a pré-eclâmpsia pode ocasionar sérias - e até mesmo fatais - complicações para a gestante e seu bebê. Se há diagnóstico de pré-eclâmpsia, grávida e equipe médica devem trabalhar para que o bebê não corra risco de complicações antes do parto. Segundo dados do Ministério da Saúde, a hipertensão é responsável por 13,8% das mortes maternas no Brasil, sendo a principal causa de morte durante a gravidez no país. A imagem a seguir mostra uma visão geral sobre essa problemática doença: 

Fisiopatologia da pré eclampsia

Em relação a fisiopatologia da Pré-eclampsia é relevante o impacto dessa doença em relação á anormalidade placentária em que durante o início do segundo trimestre da gestação (entre a 18ª e 20ª semana) instala-se um processo referido como “pseudovasculogenese”, caracterizado pela migração dos citotrofoblastos em direção às arteríolas uterinas espiraladas onde sofrem diferenciação em células com fenótipo endo­telial. Nesse processo, ocorre remodelamento gradual da camada endotelial desses vasos e destruição do tecido elástico-muscular das artérias e arteríolas, tornando-as mais dilatadas. O remodelamento das artérias uterinas espiraladas resulta na formação de um sistema local de baixa resistência arteriolar que é essencial ao aumento do suprimento sanguíneo para o desenvolvimento e crescimento do feto. Na pré-eclâmpsia, a invasão das artérias espiraladas do útero é limitada, sendo que apenas entre 30 e 50% das artérias sofrem a invasão do trofoblasto. A média do diâmetro das artérias espiraladas de gestantes com pré-eclâmpsia é metade daquela observada na gravidez normal. Essa falência do remodelamento vascular impede uma resposta adequada ao aumento da demanda do fluxo sanguíneo que ocorre durante a gestação, diminuindo a perfusão útero-placentária e provocando isquemia da placenta. Esse quadro de placentação anormal na pre-eclâmpsia está ilustrado na imagem abaixo:

Predisposiçao

A predisposição da pré-eclâmpsia tem como base a detecção de fatores de risco da gestante, assim como a avaliação da pressão sanguínea, proteinúria e edema. Entretanto, várias gestantes que não apresentam tais fatores de risco também desenvolvem pré-eclâmpsia, o que torna necessária a obtenção de marcadores bioquímicos que podem predizer tal condição. Vários estudos tiveram como objetivo a identificação de marcadores. Entretanto, nenhum deles apresenta, atualmente, valor clínico. A importância da predisposição de quais mulheres desenvolverá pré-eclâmpsia é claramente necessária, pois direcionaria cuidados médicos especiais e medidas preventivas que poderiam prolongar a gestação e diminuir os riscos maternos e fetais. Estudos familiares demonstram que de 25 a 31% de filhas de mulheres com pré-eclâmpsia desenvolvem a doença. Em filhas de mulheres sem o antecedente, esse valor varia de 5 a 10%17. Nesse aspecto, existem fortes evidencias do com­ponente genético na etiologia da pré-eclâmpsia.

Fatores de risco

A pre-eclâmpsia é mais comum em mulheres que ainda não tiveram filhos. Entretanto, nestas pacientes, a doença geralmente é leve, surge próximo ao termo ou no período intraparto (75%) e apresenta um risco pequeno quanto ao prognostico desfavorável da gestação. Ao contrario, a frequência e a gravidade da doença são maiores nas gestações múltiplas, na hipertensão crônica, na gestação anterior com pre-eclâmpsia e diabetes mellitus.
Conduta

Pre-eclâmpsia leve: o acompanhamento materno e fetal rigoroso e indica-se a interrupção da gestação caso ocorra a piora das condições materna e fetal, no inicio do trabalho de parto, na rotura prematura das membranas ou quando atingir a idade de 38 semanas de gestação.

Pre-eclâmpsia grave: abaixo de 23 semanas, devido ao risco materno, a interrupção da gestação devera ser considerada; entre 23 e 32 semanas a conduta conservadora devera ser realizada com a corticoterapia, drogas anti-hipertensivas e avaliação diária das condições materna e fetal; entre 33 e 34 semanas, devera ser realizada a corticoterapia e a programação da interrupção da gestação. O tratamento com anti-hipertensivos diminui a incidência de hipertensão grave, prevenindo complicações cerebrovasculares e cardiovasculares, as quais são causas mais comuns de morbimortalidade materna nos países em desenvolvimento. Entretanto, este tratamento não altera o curso natural da doença.

Outra importante medida terapêutica e a utilização do sulfato de magnésio, que demonstrou ser a droga ideal tanto para a profilaxia como para o tratamento das convulsões eclâmpticas. Diversos ensaios clinicos multicêntricos e revisões sistemáticas comparando o sulfato de magnésio ao diazepam, fenitoina ou coquetel de lítio indicam a efetividade e seguranca da droga, em reduzir tanto o risco de convulsões como de morte materna.


Referências: http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v31n1/v31n1a01.pdf
                     http://www.minhavida.com.br/saude/temas/pre-eclampsia
                     http://www.febrasgo.org.br/site/wp-content/uploads/2013/05/Femina_34-7-551.pdf
                     http://www.hhmi.org/research/pathogenesis-preeclampsia-and-related-disorders
                     http://www.nutricaoalemdocorpo.com.br/wp-content/uploads/2013/10/PR%C3%89-                            ECLAMPSIA.jpg